Você já reparou nas gravuras antigas dos nossos parentes? Se você olhar com atenção para os registros do século XIX, vai notar um detalhe que quase sempre passa batido: o colar não está no pescoço.
Na maioria das vezes, ele atravessa o peito, de um ombro ao quadril oposto.
Não era apenas estilo. Não era “moda”. Aquilo era tecnologia espiritual de ponta. Vamos entender a engenharia por trás do Colar de Saboneteira Cruzado.
🌿 A Matéria-Prima: Saboneteira
A base desse adorno é a semente da árvore Saboneteira (Sapindus saponaria). Se você nunca pegou uma na mão, imagine uma esfera negra, pequena (cerca de 1cm), perfeitamente redonda e extremamente dura.
Para o Puri antigo, a natureza não dava apenas recursos, dava sinais. Se a semente é dura, resistente e escura, ela carrega a energia da impenetrabilidade.
🏹 O Design: A Bandoleira
Diferente dos colares curtos e delicados, o colar de guerra Puri era um “bloco” robusto de vários fios amarrados juntos.
E aqui entra o segredo: ele era usado cruzado (em bandoleira). Para um arqueiro destro, o colar apoiava no ombro esquerdo e descia para o lado direito.
- Motivo Prático: Deixava o braço do arco livre para o movimento.
- Motivo Místico: Criava uma linha diagonal sobre o coração e o tórax.
🛡️ A Cosmologia: Fechando o Corpo
Aqui a gente entra naquilo que os viajantes europeus viam, mas não entendiam.
Nós sabemos que, na cosmologia Puri, a mata é viva e cheia de espíritos — alguns bons, outros perigosos (como o temido Quelem). Quando o guerreiro cruzava aquele feixe de sementes pretas no peito, ele não estava apenas se enfeitando.
Ele estava criando uma barreira. O colar cruzado funcionava como um escudo espiritual. Ele “fechava o corpo”. A dureza da semente de saboneteira servia para que as energias ruins batessem e voltassem. Era a armadura que protegia a Dokôra (o espírito/alma) de quem andava nas sombras da mata.
📜 “Mas isso é verdade mesmo?”
Se você é cético, a história assina embaixo. Viajantes famosos como o Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied (lá em 1815!) desenharam e descreveram nossos ancestrais usando exatamente esses cordões de sementes pretas cruzados no peito.
Eles registraram a forma. A nossa memória ancestral e a lógica da cosmologia indígena nos dão o significado.
Resumo da Ópera: O colar Puri não é sobre vaidade. É sobre estar pronto. É sobre andar na mata sabendo que seu peito está protegido por uma barreira negra, dura e ancestral.
E você? O que usa hoje para “fechar o seu corpo”?

